sexta-feira, 9 de março de 2012

Mulheres e poesia

Entrei, há tempos atrás, na Livraria da Travessa para encontrar uma amiga.

Fui direto para a a estante de poesia, onde meu vício de "abrir de livros ao acaso" é aplacado mais rapidamente.  A poesia me pega de cara, salta e entra pelos olhos, não ofereço resistência, vou folheando. 

Acontece que naquele dia me chamou atenção um livro de capa meio "noir". O nome da autora - uma enormidade de consoantes enfieleiradas -, uma polonesa, tcheca, imaginei.

Abri numa página em que o título do poema era: Escrevendo um currículo. Fiquei pregada ali. Fui à orelha e li que era polonesa. Mas aí minha amiga chegou e, distraída deixei o livro e fui embora na certeza de voltar.

Não voltei, esqueci dela, mas não da poesia. Li uma matéria no Prosa e Verso do Globo e ia recortar, e alguma coisa também me distraiu e a tesoura ficou na mesa.

Mas poesia incomoda, fica martelando, se esconde quem saci e aparece quando estamos desarmados, um pouco assim: no banho, no meio da rua, na insônia improdutiva, e sempre acompanhada de "vou no google", mas como lembrar da ordem das consoantes?

Ontem, determinada, voltei à livraria.

 Na estante, nada.

"Como era mesmo o nome?" Perguntei ao rapaz do caixa que me mandou perguntar ao vendedor, ele também sabia, como eles sabem coisas!, mas não lembrava o nome: "é difícil de lembrar".
Voltei para procurar o vendedor e em cima de uma mesa, eis que vejo :

 WISLAWA SZYMBORSKA [POEMAS]

Lá estava Wilslawa que agora se sei que se pronuncia algo como: VISSUÁVA CHEMBORSKA, fumando seu cigarro e quase piscando para mim.

Peguei rapidamente o livro e fui atrás do poema do Currículo, li este e, mais um, e mais outro.

Comprei o livro e fui para o café, rezando para nenhuma amiga aparecer. Embalada por um chá, estava calor, mas não dá para tomar Coca-cola e ler poesia, e um bolinho de banana, passei uma das mehores tardes da minha vida.

Um pouco de Wislawa segundo a Companhia das Letras, editora do livro.

Aos 88 anos, Wislawa Szymborska vive desde menina em Cracóvia, cidade situada às margens do Vístula, no sul da Polônia. O fato de ter permanecido a vida inteira no mesmo lugar diz muito sobre essa poeta conhecida por sua reserva e extrema timidez. Contudo, embora os fatos de sua vida tenham permanecido privados, quase secretos, seus poemas viajam pelo mundo. Não são tantos: sua obra inteira consiste em cerca de 250 poemas cuja função, como declarou a poeta no discurso de Oslo, é perguntar, buscar o sentido das coisas.
Com sua poesia indagadora, Szymborska foi chamada “poeta filosófica”, ou “poeta da consciência do ser”. No Brasil, teve poemas esparsos publicados em jornais e revistas ao longo dos anos, mas esta edição da Companhia das Letras, com seleção, introdução e tradução de Regina Przybycien, é a primeira oportunidade que tem o leitor brasileiro de lê-la em português. A coletânea de 44 poemas é uma belíssima apresentação à obra dessa importante poeta contemporânea.
<>Technorati
E agora a poesia que me perturbou.

Escrevendo um currículo

O que é preciso?
É preciso fazer um requerimento
e ao requerimento anexar um currículo.


O currículo tem que ser curto
mesmo que a vida seja longa.


Obrigatória a concisão e seleção dos fatos.
Trocam-se as paisagens pelos endereços
e a memória vacilante pelas datas imóveis.


De todos os amores basta o casamento,
e dos filhos só os nascidos.


Melhor quem te conhece do que o teu conhecido.
Viagens só se for para fora.
Associações a quê, mas sem por quê.
Distinções sem a razão.


Escreva como se nunca falasse consigo
e se mantivesse à distância.


Passe ao largo de cães, gatos e pássaros,
de trastes empoeirados, amigos e sonhos.


Antes o preço que o valor
e o título que o conteúdo.
Antes o número do sapato que aonde vai,
esse por quem você se passa.


Acrescente uma foto com a orelha de fora.
O que conta é o seu formato, não o que se ouve.
O que se ouve?
O matraquear das máquinas picotando o papel.

Peguei de volta a estrofe que ficou martelando e me fez pensar em rasgar o currículo que tenho e fazer um outro, poético, que com certeza vai falar muito mais de mim do que o atual.

O currículo tem que ser curto
mesmo que a vida seja longa.


Obrigatória a concisão e seleção dos fatos.
Trocam-se as paisagens pelos endereços
e a memória vacilante pelas datas imóveis.

 
E tem muito mais, qualquer dia coloco outra que estiver me perturbando.


quinta-feira, 8 de março de 2012

Mulheres

Não sou muito afeita a datas de uma forma geral. O tempo para mim é marcado pelos afetos e não pelos dias.
Não guardo no meu Sótão dias, comemorações, celebrações e manifestações coletivas de alegria vazia.
Guardo os sorrisos, as palavras, os abraços, os beijos e as mensagens que fora dos dias marcados no claendário me fizeram sentir de fato, a melhor mãe, a amiga especial, a celebração do aniversário, o Natal e tantas datas mais.

O dia de hoje é uma data inventada. Neste dia então, só se fala das mulheres. Nos outros não precisa? Bem, melhor 1 do que nenhum.

Se merecem ter um dia só para elas, devem merecer, não é?

A pergunta que me rondava era: O que as mulheres fazem? Bem diferente daquela irrespondível: "Mas afinal o que querem as mulheres?" que nem Freud respondeu.


Pensei várias coisas, mas Sophia de Mello Breyner Andresen, poetisa portuguesa, que eu busco quando preciso de poucas e boas palavras para seguir adiante, me respondeu tão claramente e tão suavemente que nem me dei ao trabalho de procurar mais.


E o que elas fazem Sophia respondeu em apenas 5 linhas:

As minhas mãos mantém as estrelas,
Seguro a minha alma para que não se quebre
A melodia que vai de flor em flor,
Arranco o mar do mar e ponho-o em mim
E o bater do meu coraçào sustenta o ritmo das coisas.

Do livro "Poemas escolhidos" da Companhia das Letras

Quem é mulher sabe do que ela está falando.

Esta é Sophia, para quem não a conhece

sexta-feira, 2 de março de 2012

Dim Sum

Qual a comida que toca o coração?
Perguntinha boba, cafona e clichê...

Quem não tem a sua "madeleine" para sacar rápido na resposta?
Mas vamos deixar a resposta rápida de lado e vamos ao título do post.

DIM SUM, que em cantonês significa "direto ao coração", pequenos bocadinhos de comida, que podem ser doce ou salgado, com carne ou vegetariano, cozido no vapor - o mais tradicional - ou frito. São conhecidos na China há milênios.

Só um pouquinho: tudo o que acontece na China tem pelo menos 1000 anos, e isto quando se quer falar em algo mais recente.
 Eram servidos, acompanhados de chá, aos viajantes e trabalhadores desde os tempos da Rota da Seda nas estalagens das estradas.

Nunca tinha experimentado esta iguaria.
Fácil de pegar com os hashis, pois são firmes e em forma de trouxinhas, e na boca desmancham suavemente espalhando o caldinho e o recheio numa combinação leve e saborosa.

O chá de jasmim realça o sabor do Dim Sum e é servido insistentemente pelo garçom.

Mas o que eu quero falar é da comida que vai "direto ao coração".
Aquela que, pela sofisticação da simplicidade, cerra nossos olhos, pede silêncio, nos faz soltar um suspiro de felicidade e, quase nos faz levitar.

O meu Dim Sum, o que vai direto ao meu coração:

Parar num restuarante velho conhecido no meio de uma estrada e pedir


um bife acebolado











e de sobremesa,



 sagu de uva com creminho de baunilha: o sagu geladinho e o creme morno.










Sofisticações do afeto, pois.

 Pratos que requerem cuidado e dedicação total  para " não passar do ponto" e "para não embolar".

O Dim Sum não me toca o coração porque não faz parte das minha memórias afetivas, o seu valor foi ter me feito pensar no que me traz felicidade à mesa.

E se a mesa estiver cheia, melhor ainda.

Dê uma olhada no seu Sótão ou no seu Porão e traga para cá o seu Dim Sum.



quinta-feira, 1 de março de 2012

Por que o blog parou?







Este blog vive de soluços, ou como diria minha heroína Emília, vive de pisca-pisca.
Pisca e ama, pisca e come, pisca e chora, pisca e ri, pisca e viaja, e viaja e viaja e não para de piscar nem de viajar.

Não pensei que o mundo fosse tão grande assim. Inocente? Talvez. Inconsequente? Um pouco Peito aberto sempre? É lógico!


Alguma dica do que fazer quando a gente se sente assim?

O que buscar no Sótão e Porão para não perder de vez a referência?
Afeto? Com certeza.
Poesia? Sem dúvida
Comida boa para o corpo e alma? É sempre bom começar com um café da manhã completo
Sirvamo-nos, a mesa está posta no post seguinte. Opa! Acho que deslizei. 
É a fome e a vontade de comer ao redor da mesa farta e dos amigos do peito.