domingo, 28 de abril de 2013


As cerejas precisam em média de 800 a 100 horas de frio para florescerem.

 Um longo inverno, e, de repente a flor, uma, duas, mil, milhares.
E uma brisa, basta uma brisa, para se desprenderem dos galhos e formarem um tapete rosa e branco, nuvem suave sobre a qual não se ousa pisar.
Assim então, despertando de um longo inverno, o Sótão e o Porão se abrem novamente e, como a cerejeira que precisou ficar com os galhos nus




 começamos a florescer novamente


e o pé começa a ficar cheio. 

Por indicação de uma amiga estou muito atenta ao Carlito Azevedo e na sua página do Facebook encontro este texto de Barthes. 
Nada mais certo e mais mutante que as estações do ano e nada mais prazeroso que o eterno retorno.

Sirvam-se à vontade!


Cerejas


Encontrei cerejas (chegadas da Austrália) no mercado Saint-Germain. Dizem-me que no mercado de Buci, ainda mais popular, há também, agora, frutas fora de estação. Mesmo que esses produtos sejam caros, caríssimos, ainda assim é comum encontrá-los pela rua. Mas não é o enigma econômico que me atrai; é, antes, o seguinte: que o progresso técnico (fazer vir, em algumas horas, frutas dos lugares mais distantes) furta ao homem o tempo justo das estações (seu tempo) e, pouco a pouco, “com a melhor das intenções”, frustra uma de suas alegrias, a da alternância; pois havia alguma alegria em se esperar o fim do inverno, ver despontar, desaparecer, lamentar as belas coisas que passam, mas que voltarão: termina a maior das alegrias, a do retorno. Para o futuro, no horizonte, os mercados não irão mais nos proporcionar a chegada dos primeiros frutos da estação: passou o tempo das diferenças.
(Mini-crônica publicada por Roland Barthes em Le Nouvel Observateur)