sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

Feliz 2011


E eis que chega ao fim 2010.


Bom? Ruim? Indiferente?

Cada um sabe como foi atravessar os 365 dias deste ano e agora vai poder escolher onde guardá-lo: no Sótão ou no Porão?



Há algo em comum entre estes dois lugares: o silêncio.

O silêncio que permite a conversa interior, o devaneio, o voltar no tempo a um som conhecido que só existe dentro de nós: aquela gargalhada, os passos atrás da porta, a chaleira chiando no fogão, a chuva - chuvisco ou tempestade -, aqueles que só nós reconhecemos.

Este Sótão e este Porão já receberam mais de 3000 visitas, a maioria feita em silêncio, talvez na madrugada, no intervalo de descanso do trabalho, depois que as crianças foram para cama, não sei... e é bom não saber!

Por isto neste dia 31, o último de 2010, e sempre tão barulhento: fogos, gritos, risadas, conversas em voz alta, música; desejo a todos que passam por aqui de vez em quando SILÊNCIO EM 2011.
Silêncio produtivo, silêncio criador, silêncio emocionado, silêncio interior.

O primeiro texto deste blog, publicado no dia 3 de agosto às 10:36, foi um texto de Proust que usei para traduzir o espírito da brincadeira.

Para o último texto de 2010 escolhi uma poesia de Saramago – do livro Provavelmente Alegria (Editorial Caminho, Lisboa, 1985) porque:


- é poesia
- é prêmio Nobel
- é Língua Portuguesa
- é silencioso
- é Saramago






É TÃO FUNDO O SILÊNCIO

É tão fundo o silêncio entre as estrelas.
Nem o som da palavra se propaga,
Nem o canto das aves milagrosas.
Mas, lá, entre as estrelas, onde somos
Um astro recriado, é que se ouve
O íntimo rumor que abre as rosas.

Este é meu desejo para 2011 – ouvir o silêncio das estrelas e do abrir das rosas.


Feliz 2011!

sábado, 25 de dezembro de 2010

25 de dezembro

Valeu a pena esperar!

Feliz Natal para todos!




Feliz Aniversário Menino Jesus, o mundo fica melhor com você!
Cuida de nós, tá?




sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

24 de dezembro

Estamos à espera....




23 de dezembro

Poesia sempre poesia.


Vinícius de Moraes e seu Poema de Natal





Para isso fomos feitos:

Para lembrar e ser lembrados

Para chorar e fazer chorar

Para enterrar os nossos mortos —

Por isso temos braços longos para os adeuses

Mãos para colher o que foi dado

Dedos para cavar a terra.

Assim será nossa vida:Uma tarde sempre a esquecer

Uma estrela a se apagar na treva

Um caminho entre dois túmulos —

Por isso precisamos velar

Falar baixo, pisar leve, ver

A noite dormir em silêncio.

Não há muito o que dizer:

Uma canção sobre um berço

Um verso, talvez de amor

Uma prece por quem se vai —

Mas que essa hora não esqueça

E por ela os nossos corações

Se deixem, graves e simples.

Pois para isso fomos feitos:

Para a esperança no milagre

Para a participação da poesia

Para ver a face da morte —

De repente nunca mais esperaremos...

Hoje a noite é jovem; da morte, apenas

Nascemos, imensamente.

22 de dezembro

Recebo um e-mail de uma prima muito querida.

Se fosse há alguns anos atrás, no tempo que éramos adolescentes e colecionávamos papel de carta, teria vindo em um papel lindo de Natal, escrito com uma letra miúda e bem caprichada.


A modernidade nos faz perder algumas coisas mas nos dá outras, hoje posso dividir esta crônica deliciosa com vocês, que chegou para mim, mas que vocês com certeza vão dar boas risadas.


Feliz Natal Stella e turma e muito obrigada pela crônica



Algo a declarar.

Começa no final de outubro e acaba lá pelo começo de março. Leva você a estar com pessoas que você se esforça em evitar durante todo o ano, ... aqueles que vão arrasar sua poupança, que farão você engordar, e, ou, ser o feliz ganhador de uma coleção de objetos para os quais você não acha nenhum uso pra eles.


É Natal!!!!


Sim, as festas estão chegando – aquela época do ano quando você retorna a casa para desfrutar da companhia daqueles que ama ou, se você não for um afortunado de ter a quem visitar, passa com seus familiares. No mundo inteirinho, os aeroportos estão fervilhando com gente cujas malas estão abarrotadas de presentinhos. No hemisfério norte, todos esperam por um “Natal Branco” (White Christmas), uma alusão direta a neve que cai nesta época do ano e que atrasa todos os vôos, isso quando não os cancela. Imortalizada na voz de Frank Sinatra esta canção tem data e hora para começar a mexer com o coração e a mente de todos que a conhecem, ...


É Natal!!!


Tudo leva mais tempo nos aeroporto por aqui na época do natal. Há mais passageiros – e mais malas, muuuuuuitas mais malas para despachar, mais casacos para tirar ao passar pela segurança e claro, mais compras pra fazer. As lojas do “duty-free”, normalmente lugares para vocês se entreter olhando todas aquelas fantásticas e coloridas embalagens de perfumes, bebidas exóticas, eletrônicos modernézimos, biscoitos amanteigados, chocolates finos, “chiques desnecessidades”, antes de embarcar, transformam-se em lugares frenéticos de compras. De alguma forma, quando você pensa que já deu conta de sua lista de presentes para os familiares, alguma reação química acontece quando você chega ao “Tax Free”, e aí você entra em pânico e compra amanteigados, CDs de musica natalina, meias tricotadas com cabeças de renas e papais noeis gordos e encurvados pelos saco de presente, ...


É Natal!!!


Não me leve a mal, eu gosto do Natal. Se eu não estivesse aqui escrevendo eu adoraria ser um representando influente da Comunidade Européia. E se assim fosse eu proporia uma radicalização nas datas: porque não alongar esta festividade que acontece no mundo cristão?
Parece óbvio pra mim, levando em conta que todos nós celebramos o natal em dezembro, que teremos sempre que aturar aeroportos lotados e longas filas de “check-in”. Porém, se o fizéssemos um de cada vez, os Espanhóis o celebrariam em fevereiro, os Alemães em março, os Belgas ficariam com o mês de abril, os Portugueses em maio, os Italianos com junho, etc, e assim, voilá – não mais filas intermináveis. Tudo bem que alguns ficariam prejudicados com estas novas e revolucionárias medidas. Os pitorescos ringues de patinação em Praga estariam descongelados no mês de agosto, mas pense positivo! Poderíamos celebrar o Natal 12 vezes ao ano, ... seria sempre Natal!!!!


Claro que isso nunca vai acontecer. O sindicato das renas é muito forte e de maneira alguma abriria mão de suas férias de 11 meses ao ano. E nem pense em se meter com aqueles que alugam patins nos ringues de patinação no leste europeu. Assim sendo acho que todos nós vamos ter que agüentar mais um final de ano com aeroportos lotados, “over booking”, e filas que fazem curva não se sabe bem aonde. Porém à medida que você abrir caminho, com sua mala de presentinhos até o controle de segurança, lembre-se de respirar fundo enquanto espera e desfrute desses momentos para pensar em todos que fizeram alguma diferença em sua vida neste ano de 2010 que começa a acabar.


Eu pensei em Vocês, Martinha.


Bjks natalinas, com muita neve lá fora, vôos cancelados e energias renovadas para nos encontrarmos em 2011.

21 de dezembro


Dia de alegria
Feliz Aniversário Sérgio para você sua música preferida

A cigana leu o meu destino
Eu sonhei!
Bola de cristal
Jogo de búzios, cartomante
E eu sempre perguntei
O que será o amanhã?
Como vai ser o meu destino?
Já desfolhei o mal-me-quer
Primeiro amor de um menino...

E vai chegando o amanhecer
Leio a mensagem zodiacal
E o realejo diz
Que eu serei feliz
Sempre feliz...

Como será amanhã?
Responda quem puder
O que irá me acontecer?
O meu destino será
Como Deus quiser
Como será?...

terça-feira, 21 de dezembro de 2010

20 de dezembro


E a história acaba, mas não o sonho


A estrela


Quando se viu sozinha no meio da rua teve vontade de voltar para trás. As árvores pareciam enormes e os seus ramos sem folhas enchiam o céu de desenhos iguais a pássaros fantásticos. E a rua parecia viva. Estava tudo deserto. Àquela hora não passava ninguém. Estava toda a gente na Missa do Galo. As casas, dentro dos seus jardins, tinham as portas e as janelas fechadas. Não se viam pessoas, só se viam coisas. Mas Joana tinha a impressão de que as coisas a olhavam e a ouviam como pessoas.
«Tenho medo», pensou ela.
Mas resolveu caminhar para a frente sem olhar para nada.
Quando chegou ao fim da rua virou à direita e meteu a um atalho entre dois muros. E no fim do atalho encontrou os campos, planos e desertos. Ali, sem muros nem árvores nem casas, a noite via-se melhor. Uma noite altíssima e redonda e toda brilhante.
O silêncio era tão forte que parecia cantar. Muito ao longe via-se a massa escura dos pinhais.
«Será possível que eu chegue até lá?», pensou Joana.
Mas continuou a caminhar.
Os seus pés enterravam-se nas ervas geladas. Ali no descampado soprava um curto vento de neve que lhe cortava a cara como uma faca.
«Tenho frio», pensou Joana.
Mas continuou a caminhar.
À medida que se ia aproximando dele, o pinhal ia-se tornando maior. Até que ficou enorme.
Joana parou um instante no meio dos campos.
«Para que lado ficará a cabana?», pensou ela.
E olhava em todas as direcções à procura de um rasto.
Mas à sua direita não havia rasto, à sua esquerda não havia rasto e à sua frente não havia rasto.
«Como é que hei-de encontrar o caminho?», perguntava ela.
E levantou a cabeça.
Então viu que no céu, lentamente, uma estrela cami¬nhava.
«Esta estrela parece um amigo», pensou ela.
E começou a seguir a estrela.
Até que penetrou no pinhal. Então num instante as sombras fizeram uma roda à sua volta. Eram enormes, verdes, roxas, pretas e azuis, e dançavam com grandes gestos. E a brisa passava entre as agulhas dos pinheiros, que pareciam murmurar frases incompreensíveis. E vendo-se assim rodeada de vozes e de sombras Joana teve medo e quis fugir. Mas viu que no céu, muito alto, para além de todas as sombras, a estrela continuava a caminhar. E seguiu a estrela.
Já no meio do pinhal pareceu-lhe ouvir passos.
«Será um lobo?», pensou.
Parou a escutar. O barulho dos passos aproximava-se. Até que viu surgir entre os pinheiros um vulto muito alto que vinha caminhando ao seu encontro.
«Será um ladrão?», pensou.
Mas o vulto parou na sua frente e ela viu que era um rei. Tinha na cabeça uma coroa de oiro e dos seus ombros caía um longo manto azul todo bordado de diamantes.
— Boa noite — disse Joana.
— Boa noite — disse o rei. — Como te chamas?
— Eu, Joana — disse ela.
— Eu chamo-me Melchior — disse o rei. E perguntou:
— Onde vais sozinha a esta hora da noite?
— Vou com a estrela — disse ela.
— Também eu — disse o rei —, também eu vou com a estrela.
E juntos seguiram através do pinhal.
E de novo Joana ouviu passos. E um vulto surgiu entre as sombras da noite.
Tinha na cabeça uma coroa de brilhantes e dos seus ombros caía um grande manto vermelho coberto de muitas esmeraldas e safiras.
— Boa noite — disse ela. — Chamo-me Joana e vou com a estrela.
— Também eu — disse o rei — também eu vou com a estrela e o meu nome é Gaspar.
E seguiram juntos através dos pinhais. E mais uma vez Joana ouviu um barulho de passos e um terceiro vulto surgiu entre as sombras azuis e os pinheiros escuros.
Tinha na cabeça um turbante branco e dos seus ombros caía um longo manto verde bordado de pérolas. A sua cara era preta.
— Boa noite — disse ela. — O meu nome é Joana. E vamos com a estrela.
— Também eu — disse o rei — caminho com a estrela e o meu nome é Baltasar.
E juntos seguiram os quatro através da noite.
No chão, os galhos secos estalavam sob os passos, a brisa murmurava entre as árvores e os grandes mantos bordados dos três reis do Oriente brilhavam entre as sombras verdes, roxas e azuis.
Já quase no fundo dos pinhais viram ao longe uma claridade. E sobre essa claridade a estrela parou.
E continuaram a caminhar.
Até que chegaram ao lugar onde a estrela tinha parado e Joana viu um casebre sem porta. Mas não viu escuridão, nem sombra, nem tristeza. Pois o casebre estava cheio de claridade, porque o brilho dos anjos o iluminava.
E Joana viu o seu amigo Manuel. Estava deitado nas palhas entre a vaca e o burro e dormia sorrindo.
Em sua roda, ajoelhados no ar, estavam os anjos. O seu corpo não tinha nenhum peso e era feito de luz sem nenhuma sombra.
E com as mãos postas os anjos rezavam ajoelhados no ar.
Era assim, à luz dos anjos, o Natal de Manuel.
— Ah — disse Joana — aqui é como no presépio!
— Sim — disse o rei Baltasar — aqui é como no presépio.
Então Joana ajoelhou-se e poisou no chão os seus presentes.

19 de dezembro



Uma história de Natal publicada em dois dias.


A autora é a escritora e poetisa portuguesa Sophia de Mello Andressen


É poesia em prosa e também vai aos poucos para esperar o presente final





A NOITE DE NATAL




O AMIGO



Era uma vez uma casa pintada de amarelo com um jardim à volta.
No jardim havia tílias, bétulas, um cedro muito antigo, uma cerejeira e dois plátanos. Era debaixo do cedro que Joana brincava. Com musgo e ervas e paus fazia muitas casas pequenas encostadas ao grande tronco escuro. Depois imaginava os anõezinhos que, se existissem, poderiam morar naquelas casas. E fazia uma casa maior e mais complicada para o rei dos anões.
Joana não tinha irmãos e brincava sozinha. Mas de vez em quando vinham brincar os dois primos ou outros meninos. E, às vezes, ela ia a uma festa. Mas esses meninos a casa de quem ela ia e que vinham a sua casa não eram realmente amigos: eram visitas. Faziam troça das suas casas de musgo e maçavam-se imenso no seu jardim.
E Joana tinha muita pena de não saber brincar com os outros meninos. Só sabia estar sozinha.
Mas um dia encontrou um amigo. Foi numa manhã de Outubro.
Joana estava encarrapitada no muro. E passou pela rua um garoto. Estava todo vestido de remendos e os seus olhos brilhavam como duas estrelas. Caminhava devagar pela beira do passeio sorrindo às folhas do Outono. O coração de Joana deu um pulo na garganta.
— Ah! — disse ela. E pensou:
«Parece um amigo. E exactamente igual a um amigo.» E do alto do muro chamou-o:
— Bom dia!
O garoto voltou a cabeça, sorriu e respondeu:
— Bom dia!
Ficaram os dois um momento calados.
Depois Joana perguntou:
— Como é que te chamas?
— Manuel — respondeu o garoto.
— Eu chamo-me Joana.
E de novo entre os dois, leve e aéreo, passou um silêncio. Ouviu-se tocar ao longe o sino de uma quinta. Até que o garoto disse:
— O teu jardim é muito bonito.
— É, vem ver.
Joana desceu do muro e foi abrir o portão.
E foram os dois pelo jardim fora. O rapazinho olhava uma por uma cada coisa. Joana mostrou-lhe o tanque e os peixes vermelhos. Mostrou-lhe o pomar, as laranjeiras e a horta. E chamou os cães para ele os conhecer. E mostrou-lhe a casa da lenha onde dormia um gato. E mostrou-lhe todas as árvores e as relvas e as flores.
— É lindo, é lindo — dizia o rapazinho gravemente.
— Aqui — disse Joana — é o cedro. É aqui que eu brinco.
E sentaram-se sob a sombra redonda do cedro.
A luz da manhã rodeava o jardim: tudo estava cheio de paz e de frescura. Às vezes do alto de uma tília caía uma folha amarela que dava voltas no ar.
Joana foi buscar pedras, paus e musgo e começaram os dois a construir a casa do rei dos anões.
Brincaram assim durante muito tempo.
Até que ao longe apitou uma fábrica.
— Meio-dia — disse o garoto — tenho de me ir embora.
— Onde é que tu moras?
— Além nos pinhais.
— É lá a tua casa?
— É, mas não é bem uma casa.
— Então?
— O meu pai está no céu. Por isso somos muito pobres. A minha mãe trabalha todo o dia mas não temos dinheiro para ter uma casa.
— Mas à noite onde é que dormes?
— O dono dos pinhais tem uma cabana onde de noite dormem uma vaca e um burro. E por esmola dá-me licença de dormir ali também.
— E onde é que brincas?
— Brinco em toda a parte. Dantes morávamos no centro da cidade e eu brincava no passeio e nas valetas. Brincava com latas vazias, com jornais velhos, com trapos e com pedras. Agora brinco no pinhal e na estrada. Brinco com as ervas, com os animais e com as flores. Pode-se brincar em toda a parte.
— Mas eu não posso sair deste jardim. Volta amanhã para brincar comigo.
E daí em diante todas as manhãs o rapazinho passava pela rua. Joana esperava-o empoleirada em cima do muro.
Abria-lhe a porta e iam os dois sentar-se sob a sombra redonda do cedro.
E foi assim que Joana encontrou um amigo.
Era um amigo maravilhoso. As flores voltavam as suas corolas quando ele passava, a luz era mais brilhante em seu redor e os pássaros vinham comer na palma das suas mãos as migalhas de pão que Joana ia buscar à cozinha.


A FESTA





Passaram muitos dias, passaram muitas semanas até que chegou o Natal.
E no dia de Natal Joana pôs o seu vestido de veludo azul, os seus sapatos de verniz preto e muito bem penteada às sete e meia saiu do quarto e desceu a escada.
Quando chegou ao andar de baixo ouviu vozes na sala grande; eram as pessoas crescidas que estavam lá dentro. Mas Joana sabia que tinham fechado a porta para ela não entrar. Por isso foi à casa de jantar ver se já lá estavam os copos.
Os copos passavam a sua vida fechados dentro de um grande armário de madeira escura que estava no meio do corredor. Esse armário tinha duas portas que nunca se abriam completamente e uma grande chave. Lá dentro havia sombras e brilhos. Era como o interior de uma caverna cheia de maravilhas, e segredos. Estavam lá fechadas muitas coisas, coisas que não eram precisas para a vida de todos os dias, coisas brilhantes e um pouco encantadas: loiças, frascos, caixas, cristais e pássaros de vidro. Até havia um prato com três maçãs de cera e uma menina de prata que era uma campainha. E também um grande ovo de Páscoa feito de loiça encarnada com flores doiradas.
Joana nunca tinha visto bem até ao fundo do armário. Não tinha licença de o abrir. Só conseguia que a criada às vezes a deixasse espreitar entre as duas portas.
Nos dias de festa, do fundo das sombras do interior do armário saíam os copos. Saíam claros, transparentes e brilhantes tilintando no tabuleiro. E para Joana aquele barulho de cristal a tilintar era a música das festas.
Joana deu uma volta à roda da mesa. Os copos já lá estavam, tão frios e luminosos que mais pareciam vindos do interior de uma fonte de montanha do que do fundo de um armário. As velas estavam acesas e a sua luz atravessava o cristal. Em cima da mesa havia coisas maravilhosas e extraordinárias: bolas de vidro, pinhas douradas e aquela planta que tem folhas com picos e bolas encarnadas. Era uma festa. Era o Natal.
Então Joana foi ao jardim. Porque ela sabia que nas Noites de Natal as estrelas são diferentes.
Abriu a porta e desceu a escada da varanda. Estava muito frio, mas o próprio frio brilhava. As folhas das tílias, das bétulas e das cerejeiras tinham caído. Os ramos nus desenhavam-se no ar como rendas pretas. Só o cedro tinha os seus ramos cobertos.
E muito alto, por cima das árvores, era a escuridão enorme e redonda do céu. E nessa escuridão as estrelas cintilavam, mais claras do que tudo. Cá em baixo era uma festa e por isso havia muitas coisas brilhantes: velas acesas, bolas de vidro, copos de cristal. Mas no céu havia uma festa maior, com milhões e milhões de estrelas.
Joana ficou algum tempo com a cabeça levantada. Não pensava em nada. Olhava a imensa felicidade da noite no alto céu escuro e luminoso, sem nenhuma sombra.
Depois voltou para casa e fechou a porta. — Ainda falta muito tempo para o jantar? — perguntou ela a uma criada que ia a atravessar o corredor.
— Ainda falta um bocadinho, menina — disse a criada. Então Joana foi à cozinha ver a cozinheira
Gertrudes, que era uma pessoa extraordinária porque mexia nas coisas quentes sem se queimar e nas facas mais aguçadas sem se cortar, e mandava em tudo, e sabia tudo. Joana achava-a a pessoa mais importante que ela conhecia.
A Gertrudes tinha aberto o forno e estava debruçada sobre os dois perus do Natal. Virava-os e regava-os com molho. A pele dos perus, muito esticada sobre o peito recheado, já estava toda doirada.
— Gertrudes, ouve uma coisa — disse Joana.
A Gertrudes levantou a cabeça e parecia tão assada como os perus.
— O que é? — perguntou ela.
— Que presentes é que achas que eu vou ter?
— Não sei — disse Gertrudes — não posso adivinhar.
Mas Joana tinha a maior confiança na sabedoria de Gertrudes e por isso continuou a fazer perguntas.
— E achas que o meu amigo vai ter muitos presentes?
— Qual amigo? — disse a cozinheira.
— O Manuel.
— O Manuel não. Não vai ter presentes nenhuns.
— Não vai ter presentes nenhuns!?
— Não — disse a Gertrudes abanando a cabeça.
— Mas porquê, Gertrudes?
— Porque é pobre. Os pobres não têm presentes.
— Isso não pode ser, Gertrudes.
— Mas é assim mesmo — disse a Gertrudes fechando a tampa do forno.
Joana ficou parada no meio da cozinha. Tinha compreendido que era «assim mesmo».
Porque ela sabia que a Gertrudes conhecia o mundo. Todas as manhãs a ouvia discutir com o homem do talho, com a peixeira e com a mulher da fruta. E ninguém a podia enganar. Porque ela era cozinheira há trinta anos. E há trinta anos que ela se levantava às sete da manhã e trabalhava até às onze da noite. E sabia tudo o que se passava na vizinhança e tudo o que se passava dentro das casas de toda a gente. E sabia todas as notícias, e todas as histórias das pessoas. E conhecia todas as receitas de cozinha, sabia fazer todos os bolos e conhecia todas as espécies de carnes, de peixes, de frutas e de legumes. Ela nunca se enganava. Conhecia bem o mundo, as coisas e os homens.
Mas o que a Gertrudes tinha dito era esquisito como uma mentira. Joana ficou calada a cismar no meio da cozinha.
De repente abriu-se a porta e apareceu uma criada que disse:
— Já chegaram os primos.
Então Joana foi ter com os primos.
Daí a uns minutos apareceram as pessoas grandes e foram todos para a mesa.
Tinha começado a festa do Natal.
Havia no ar um cheiro de canela e de pinheiro. Em cima da mesa tudo brilhava: as velas, as facas, os copos, as bolas de vidro, as pinhas doiradas. E as pessoas riam e diziam umas às outras: «Bom Natal». Os copos tilintavam com um barulho de alegria e de festa. E vendo tudo isto Joana pensava:
— Com certeza que a Gertrudes se enganou. O Natal é uma festa para toda a gente. Amanhã o Manuel vai-me contar tudo. Com certeza que ele também tem presentes.
E consolada com esta esperança Joana voltou a ficar quase tão alegre como antes.
O jantar do Natal era igual ao de todos os anos.
Primeiro veio a canja, depois o bacalhau assado, depois os perus, depois os pudins de ovos, depois as rabanadas, depois os ananases.
No fim do jantar levantaram-se todos, abriu-se de par em par a porta e entraram na sala.
As luzes eléctricas estavam apagadas. Só ardiam as velas do pinheiro.
Joana tinha nove anos e já tinha visto nove vezes a árvore do Natal. Mas era sempre como se fosse a primeira vez. Da árvore nascia um brilhar maravilhoso que pousava sobre todas as coisas. Era como se o brilho de uma estrela se tivesse aproximado da Terra. Era o Natal. E por isso uma árvore se cobria de luzes e os seus ramos se carregavam de extraordinários frutos em memória da alegria que, numa noite muito antiga, se tinha espalhado sobre a Terra.
E no presépio as figuras de barro, o Menino, a Virgem, São José, a vaca e o burro, pareciam continuar uma doce conversa que jamais tinha sido interrompida. Era uma conversa que se via e não se ouvia.
Joana olhava, olhava, olhava.
Às vezes lembrava-se do seu amigo Manuel.
Um dos primos puxou-a por um braço.
— Joana, ali estão os teus presentes.
Joana abriu um por um os embrulhos e as caixas: a boneca, a bola, os livros cheios de desenhos a cores, a caixa de tintas.
À sua volta todos riam e conversavam.
Todos mostravam uns aos outros os presentes que tinham tido, falando ao mesmo tempo.
E Joana pensava:
— Talvez o Manuel tenha tido um automóvel.
E a festa do Natal continuava.
As pessoas grandes sentaram-se nas cadeiras e nos sofás a conversar e as crianças sentaram-se no chão a brincar.
Até que alguém disse:
— São onze horas e meia. São quase horas da missa. E são horas de as crianças se irem deitar.
Então as pessoas começaram a sair.
O pai e a mãe de Joana também saíram.
— Boa noite, minha querida. Bom Natal — disseram eles.
E a porta fechou-se.
Daí a um instante saíram as criadas.
A casa ficou muito silenciosa. Tinham ido todos para a Missa do Galo, menos a velha Gertrudes, que estava na cozinha a arrumar as panelas.
E Joana foi à cozinha. Era a altura boa para falar com a Gertrudes.
— Bom Natal, Gertrudes — disse Joana.
— Bom Natal — respondeu a Gertrudes. Joana calou-se um momento. Depois perguntou:
— Gertrudes, aquilo que disseste antes do jantar é verdade?
— O que é que eu disse?
— Disseste que o Manuel não ia ter presentes de Natal porque os pobres não têm presentes.
— Está claro que é verdade. Eu não digo fantasias: não teve presentes, nem árvore do Natal, nem peru recheado, nem rabanadas. Os pobres são os pobres. Têm a pobreza.
— Mas então o Natal dele como foi?
— Foi como nos outros dias.
— E como é nos outros dias?
— Uma sopa e um bocado de pão.
— Gertrudes, isso é verdade?
— Está claro que é verdade. Mas agora era melhor que a menina se fosse deitar porque estamos quase na meia-noite.
— Boa noite — disse Joana. E saiu da cozinha.
Subiu a escada e foi para o seu quarto. Os seus presentes de Natal estavam em cima da cama. Joana olhou-os um por um. E pensava:
— Uma boneca, uma bola, uma caixa de tintas e livros. São tal e qual os presentes que eu queria. Deram-me tudo o que queria. Mas ao Manuel ninguém deu nada.
E sentada na beira da cama, ao lado dos presentes, Joana pôs-se a imaginar o frio, a escuridão e a pobreza. Pôs-se a imaginar a Noite de Natal naquela casa que não era bem uma casa, mas um curral de animais.
«Que frio lá deve estar!», pensava ela.
«Que escuro lá deve estar!», pensava ela.
«Que triste lá deve estar!», pensava.
E começou a imaginar o curral gelado e sem nenhuma luz onde Manuel dormia em cima das palhas, aquecido só pelo bafo de uma vaca e de um burro.
— Amanhã vou-lhe dar os meus presentes — disse ela. Depois suspirou e pensou:
«Amanhã não é a mesma coisa. Hoje é que é a Noite de Natal.»
Foi à janela, abriu as portadas e através dos vidros espreitou a rua. Ninguém passava. O Manuel estava a dormir. Só viria na manhã seguinte. Ao longe via-se uma grande sombra escura: era o pinhal.
Então ouviu, vindas da Torre da Igreja, fortes e claras, as doze pancadas da meia-noite.
«Hoje», pensou Joana, «tenho de ir hoje. Tenho de ir lá agora, esta noite. Para que ele tenha presentes na Noite de Natal.»
Foi ao armário tirou um casaco e vestiu-o. Depois pegou na bola, na caixa de tintas e nos livros. Apetecia-lhe levar também a boneca, mas ele era um rapaz e com certeza não gostava de bonecas.
Pé ante pé Joana desceu a escada. Os degraus estalaram um por um. Mas na cozinha a Gertrudes fazia muito barulho a arrumar as panelas e não a ouviu.
Na sala de jantar havia uma porta que dava para o jardim. Joana abriu-a e saiu, deixando-a ficar só fechada no trinco.
Depois atravessou o jardim. O Alex e a Ghiribita ladraram.
— Sou eu, sou eu — disse Joana.
E os cães, ouvindo a sua voz, calaram-se.
Então Joana abriu a porta do jardim e saiu.

18 de dezembro


War is over

If you want it

War is over

Now

War is over

If you want it

War is over

Now

17 de dezembro


And so this is Christmas

For weak and for strong

For rich and the poor ones

The road is so long

And so happy Christmas

For black and for white

For yellow and red ones

Let's stop all the fight

16 de dezembro


A very merry Christmas

And a happy New Year

Let's hope it's a good one

Without any fear

15 de dezembro

Pérolas aos poucos, como a neve que cai devagar e enche a rua de branco







So this is Christmas

And what have you done

Another year over

And a new one just begun

And so this is Christmas

I hope you have fun

The near and the dear ones

The old and the young

terça-feira, 14 de dezembro de 2010

14 de dezembro



Outra frase curta hoje:

Feliz Aniversário, pai!


Nada mais, pois Dezembro não é mês leve.

13 de dezembro




Uma amiga me manda uma história para o dia de hoje, pois ela achou que faltava no calendário o pinheiro de Natal.

“A árvore de natal mais linda que meus olhos de criança viram não era a da minha casa.

As famílias assim como a terra são atravessadas por linhas imaginárias que determinam sua posição no mundo. A minha não era diferente.

Digamos que eu estivesse na porção central da família, era pobre para os ricos, e rica para os pobres. Nunca soube onde eu estava.

A árvore de Natal em questão, pertencia à parte pobre da família, mais especificamente às minhas primas que, durante o ano todo viviam uma vida dura, mas por 1 mês eram as donas da árvore que enfeitava a sala.

Sala que elas não podiam freqüentar o ano inteiro.

Natal às vezes tem destas coisas...”

Obrigada querida amiga, que me pede que não coloque seu nome, esta história pode ter vários donos.

12 de dezembro

Poetas, sempre eles...

Povoam nossa vida e sempre acertam no alvo, vejam o que Manoel de Barros escreveu:

O MENINO QUE CARREGAVA ÁGUA NA PENEIRA

Tenho um livro sobre águas e meninos.
Gostei mais de um menino que carregava água na peneira.
A mãe disse que carregar água na peneira
Era o mesmo que roubar um vento e sair correndo
com ele para mostrar aos irmãos.
A mãe disse que era o mesmo que catar espinhos na água
O mesmo que criar peixes no bolso.
O menino era ligado em despropósitos.
Quis montar os alicerces de uma casa sobre orvalhos.
A mãe reparou que o menino gostava mais do vazio do que do cheio.
Falava que os vazios são maiores e até infinitos.
Com o tempo aquele menino que era cismado e esquisito
Porque gostava de carregar água na peneira
Com o tempo descobriu que escrever seria o mesmo que carregar água na peneira.
No escrever o menino viu que era capaz de ser noviça, monge ou mendigo ao mesmo tempo.
O menino aprendeu a usar as palavras.
Viu que podia fazer peraltagens com as palavras.
E começou a fazer peraltagens.
Foi capaz de interromper o voo de um pássaro botando ponto final na frase.
Foi capaz de modificar a tarde botando chuva nela.
O menino fazia prodígios.
Até fez uma pedra dar flor!
A mãe reparava o menino com ternura.
A mãe falou: Meu filho, você vai ser poeta.
Vai carregar água na peneira a vida toda.
Você vai encher os vazios com as suas peraltagens.
E algumas pessoas vão te amar por teus despropósitos.




Os cinco últimos versos poderiam ser assim:
A mãe reparava o menino com ternura:
A mãe falou: Meu filho, você vai ser o salvador
Vai carregar água na peneira a vida toda.
Você vai encher os vazios com as suas mãos.
E algumas pessoas vão te amar, outras vão te achar um despropósito.

Desculpe poeta, mas não resisti precisava de uma poesia para hoje.

sábado, 11 de dezembro de 2010

11 de dezembro

“Maria lavava
São José estendia
Menino chorava
Com o frio que fazia"








Música que minha mãe me ninava e me enchia de tristeza e angústia, era triste saber que um menino sentia frio. O sono me acalmava.

Num Natal decidi acabar com a tristeza do mundo: a minha e a do menino, que eram as que me importavam.

Olhando o menino que ficava na manjedoura, na verdade uma bandejinha de veludo vermelho com uma perna cambaia, enfeitada com uma palha artificial, não titubeei: vesti no coitado que chorava e sentia frio uma calçinha rosa com rendinhas brancas.

- Menina, o que é isto?
- Para o menino não sentir frio.

Não lembro de alguém ter contestado a calçinha, o meu mundo sorriu: meu pai, minha mãe, meu irmão.

O menino? Este sorria sempre.

10 de dezembro



Manoel de Barros não fala de Natal, mas fala de que então, quando diz:

“As coisas que não levam a nada tem grande importância”

Que motivo alguém teria para dar abrigo a um casal pobre - ele, carpinteiro, ela dona de casa, grávida já a ponto de dar ao mundo o que o mundo não queria – mais uma boca para comer; sem casa, expulsos de sua terra por força da violência.

Ainda hoje se pensa assim, não aprendemos nada.


9 de dezembro



A viagem de Maria e José




Descubro em Mia Couto, poeta e escritor de Moçambique, a frase que precisava para a viagem:

“A pessoa viaja é para ser esperado, do outro lado a mão de gente que é nossa, com nome e história. Como um laço que pede as duas pontas.”

José e Maria já sabiam da história que traziam, queriam contá-la, mas naquele momento homens ocupados com seus medos não podiam ouvi-los, preferiam repetir suas pobres histórias.


Nota: a imagem de Ramon Faria é de poucos traços, simples como as grandes artes.

quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

8 de dezembro

Dia de Nossa Senhora da Conceição.




Abro esta janela como se abrisse a minha alma.

Uma frase muito curta:

Feliz Aniversário Mãe!

Mais do que isto hoje não dá.

7 de dezembro

“Eu pensei que todo mundo fosse filho de Papai Noel


E somos, mas adultos exigem que se expliquem os presentes.

Os pequenos, ao contrário, se não encontram uma explicação para o que ganham fazem uma bola com o papel e se põem a jogar, criam a explicação.

6 de dezembro



Noite estrelada e fria como aquela que o Menino iluminou.

No momento de maior escuridão da noite a madrugada levanta o negro véu e a primeira luz se insinua. No momento de maior brilho da lua, Apolo encilha seus cavalos.

No momento de maior desesperança algo nos toca no ombro, olhamos para cima e percebemos que tudo, tudo mesmo cumpre um ciclo nesta vida.

5 de dezembro

Hoje o dia é de José.

Mais uma vez vou à Clarice:

A HUMILDADE DE SÃO JOSÉ
São José é o símbolo da humildade. Ele sabia que não era o pai da Criança e cuidava da virgem grávida como se ele a tivesse germinado.
São José é a bondade humana. É o auto-pagamento no grande momento histórico. Ele é o que vela pela humanidade.

É bom dormir sabendo que alguém vela...


4 de dezembro



Hoje vamos de Clarice Lispector,
Em “A descoberta do mundo” no dia 21 de dezembro de 1968 ela escreve:

A VIRGEM EM TODAS AS MULHERES
Toda mulher, ao saber que está grávida, leva a mão à garganta: ela sabe que dará à luz um ser que seguirá forçosamente o caminho de Cristo, caindo na sua via muitas vezes sob o peso da cruz. Não há como escapar.

Clarice tem destas coisas, ela diz, não manda recados.

Marias e Josés que somos, sabemos disto também, mas mesmo assim temos nossos meninos e meninas e nos maravilhamos a cada um que chega.

3 de dezembro

Manoel de Barros, poeta brasileiro, me dá de presente esta frase do prefácio da sua Antologia e não era sobre o Natal que ele falava.

“Distâncias somam a gente para menos”

Quem já provou em alguma época da vida a distância de alguém, ou da terra onde largou o umbigo, sabe bem como ouvir esta frase.

Eu a escolhi para colocar junto ao presépio da querida Júlia.

No presépio de Júlia as figuras são do Panamá e a casinha, que também é chamada de lapinha, está forrada de folhas secas das árvores por onde hoje Júlia caminha.




O Presépio aqui torce a frase do poeta: diminui distâncias e soma as gentes para mais.

2 de dezembro

Como criança esquecida, mas apressada, abri várias janelinhas do calendário de uma só vez.

2 de dezembro

São Francisco de Assis e Santo Antônio,são para mim, os dois santos mais simpáticos da Igreja Católica, com todo o respeito aos outros. Parece que estão sempre dispostos a uma conversinha, daquelas de pai para filho.
“Olha São Chico, não sei o que faço com...., me ajuda vai... e lá vem ele com aquela carinha simpática de quem vai fazer tudo para resolver ou pelo menos dar um colinho.

Imagino-o em Assis, uma das cidades onde Deus está presente com certeza, sentado com seus amigos pensando em uma forma de celebrar o nascimento do Menino da forma como de fato aconteceu: a grandeza na simplicidade.

E assim como não quer nada, em 1223 pediu permissão ao Papa e, às imagens de Nossa Senhora, São José, e do menino na manjedoura cheia de palha; juntou um boi e um jumento e outros animais vivos. Celebrou assim uma Missa de Natal.

Os amigos do Sótão e do Porão sabem da minha paixão por eles e sempre me mandam algum de presente, físico ou virtual.

Uma amiga querida, que pleonasmo, aqui só entram as queridas, me mandou vários e escolhi este.

Obrigada Margareth.

domingo, 5 de dezembro de 2010

Começa dezembro e me dá certa agonia: pelo ano estar a terminar, pelo balanço inevitável do que fui e do que serei, pelas providências a tomar e às vezes são tantas que fico bêbada, pela festa a preparar e porque daqui a pouco será Natal.

As famílias crescem e se misturam, umas comem peru, outras bacalhau, outras não comem nada.

Em algumas se trocam presentes, em outras, eles são só para as crianças e, em outras ainda é um Feliz Natal com aquele amargo que acompanha a miséria.


Natal só é fácil quando se é criança, e assim mesmo nem sempre, depois é tarefa difícil de vencer e confesso que, o mês de dezembro vem se tornando a cada ano mais difícil.


Em certos anos gostaria que ao 30 de novembro se seguisse o 6 de janeiro. O ano já teria terminado e levado embora todas as convenções que as datas exigem.

Há uns anos atrás, num mês de junho, tive vontade de presentear a todos, como se faz no Natal; estava feliz e tinha entrado um dinheirinho extra, mas, por medo de me acharem louca, acabei numa festa junina, que detesto. Quando entrou dezembro já não estava tão feliz, o dinheiro tinha se perdido com outras obrigações e o Natal me deixou triste e endividada.

Entre compras e mais compras, almoços, jantares, amigos ocultos e uma comilança sem fim há duas coisas que ainda me comovem em dezembro: o Calendário do Advento e o Presépio. Representam a expectativa de alguma coisa que vai acontecer e a esperança do nascimento, nada nem ninguém nasce sem esperança e expectativa.

Em cada Sótão e cada Porão temos guardados nossos Calendários, Presépios, Árvores, Melancolias, Alegrias, Tristezas, Injustiças e tudo o que nos foi dado a guardar.

Já estou no primeiro domingo de dezembro e ainda não consegui começar o que me propus no fim de novembro – fazer aqui um Calendário do Advento, aquele cartão, mural, coroa de velas, ou seja lá que forma tenha onde os dias de dezembro, de 1 a 25 são marcados com uma imagem, um texto, um doce, ou o que mais a imaginação inventar.


Pois bem, estou 5 dias atrasadas, mas esta é a vida real, quando vemos já passaram 5 horas, 5 dias, 5 meses e aí é Natal. Mas mesmo assim vou tentar fazer este calendário funcionar.

Já o Presépio ocupa na minha vida um lugar especial.

Sou apaixonada por esta representação: os pais adorando o filho que acaba de nascer, seja ele filho de reis ou de escravos, o olhar é o mesmo sobre aquele pequeno – a família, sagrada sempre, independente da forma que evoluiu daqueles dias para os atuais.


E de quebra, um anjo protegendo os 3.




O meu presente de Natal para quem passar por aqui será o calendário e a cada dia uma imagem de presépio, às vezes atrasada em 1 ou 2 dias, não importa, quero manter a expectativa no ar.

Vamos lá então:

1 DE DEZEMBRO:

O Calendário do Advento vem dos Luteranos alemães, que, ao menos até o começo do século XIX, faziam a contagem regressiva para o dia do Advento.
Freqüentemente, a contagem era feita com um simples risco de giz na porta a cada dia, começando em primeiro de dezembro. Algumas famílias tinha meios mais elaborados de marcar os dias, como acender uma nova vela (talvez a gênese das atuais coroas do Advento) ou pendurando um santinho na parede a cada dia.
As velas também podiam ser colocadas em uma estrutura, que era conhecida como "relógio do Advento". Em dezembro de 1839 a primeira coroa do Advento pública foi pendurada na capela da Ruhes Haus (um orfanato) em Hamburgo, apesar de ter sido uma prática familiar em regiões de língua germânica da Europa desde o século XVII.
O primeiro calendário do Advento conhecido foi manufaturado em 1851.


Chata esta explicação... prefiro pensar que cada dia terá a me esperar uma surpresinha ou uma pequena vela que acesa vai me fazer sorrir levemente, nem é bem um sorriso, é quase um suspiro, uma esperançazinha antiga que sem querer vai tomando a gente.


E como aqui não pode faltar poesia, começo com Manuel Bandeira, podem chorar à vontade



Versos de Natal

Espelho, amigo verdadeiro,
Tu refletes as minhas rugas,
Os meus cabelos brancos,
Os meus olhos míopes e cansados.
Espelho, amigo verdadeiro,
Mestre do realismo exato e minucioso,
Obrigado, obrigado!

Mas se fosses mágico,
Penetrarias até ao fundo desse homem triste,
Descobririas o menino que sustenta esse homem,
O menino que não quer morrer,
Que não morrerá senão comigo,
O menino que todos os anos na véspera do Natal
Pensa ainda em pôr os seus chinelinhos atrás da porta.