Suzy Altmayer manda para o nosso sótão mais um vestido: "Lembrança de um conto passado de mãe pra filha sobre um vestido que não teve a mesma sorte destes aí".
Era um vestido especial, daqueles de ir à missa aos domingos, muitas fitas e rococós como se usava nos anos 30.
Bem cedo era um vem de cá e vai pra lá, a casa se preparava para a missa dominical.
Maria era a primeira a ser arrumada, penteadas suas tranças, vestido engomado, esperava pelos adultos.
Na véspera sua avó tinha começado a lhe ensinar a bordar. Riscara uma florzinha num paninho algodãozinho simples, a menina estava encantada e queria terminar logo esta flor. Não estava com paciência de missa, tinha tanto que aprender. Sua avó e sua mãe, nas tardes compridas às margens do Rio Guayba, trocavam riscos e linhas, também queria bordar com elas.
Enquanto esperava lhe chamarem, sentou-se ao pé do abacateiro em frente ao avarandado com seu bastidor tentando seguir o traço, quando sentiu algo cair dentro do vestido.
Era um bichinho: formiga, joaninha? Uma aranha? Que medo! Fez um apertadinho do bichinho no vestido e zupt... meteu a tesoura livrando-se do inoportuno visitante. Mas, e agora? Lá ficou um buraco no vestido.
Sua mãe, mulher severa, não achou nenhuma graça; e para castigo de Maria o pedacinho foi costurado ali outra vez... Um remendo feio no meio de tanta boniteza!
Maria junto com os pontos do bordado também aprendeu que a tesoura era só para cortar a linha.
Lembrança de um fato contado-me por Lourdes Maria, aquela que anos depois me fez o vestido xadrezinho.
Os sótãos e porões não existem mais nas casas modernas, por isto criei este lugar para: - descobrir coisas esquecidas tais como, uma poesia, um trecho de um livro clássico, fotos, e muito mais, - um lugar para guardar por algum tempo coisas que você não quer mais, mas que de vez em quando quer olhar - um lugar para deixar seus sentimentos de mágoa, raiva, e tudo o que nos faz mal e pedir às traças e aos cupins que os destruam de vez. Entre neste sótão e neste porão e fique à vontade.
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quarta-feira, 1 de setembro de 2010
Às margens do Rio Guayba
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