quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Às margens do Rio Guayba

Suzy Altmayer manda para o nosso sótão mais um vestido: "Lembrança de um conto passado de mãe pra filha sobre um vestido que não teve a mesma sorte destes aí".


Era um vestido especial, daqueles de ir à missa aos domingos, muitas fitas e rococós como se usava nos anos 30.
Bem cedo era um vem de cá e vai pra lá, a casa se preparava para a missa dominical.

Maria era a primeira a ser arrumada, penteadas suas tranças, vestido engomado, esperava pelos adultos.
Na véspera sua avó tinha começado a lhe ensinar a bordar. Riscara uma florzinha num paninho algodãozinho simples, a menina estava encantada e queria terminar logo esta flor. Não estava com paciência de missa, tinha tanto que aprender. Sua avó e sua mãe, nas tardes compridas às margens do Rio Guayba, trocavam riscos e linhas, também queria bordar com elas.
Enquanto esperava lhe chamarem, sentou-se ao pé do abacateiro em frente ao avarandado com seu bastidor tentando seguir o traço, quando sentiu algo cair dentro do vestido.
Era um bichinho: formiga, joaninha? Uma aranha? Que medo! Fez um apertadinho do bichinho no vestido e zupt... meteu a tesoura livrando-se do inoportuno visitante. Mas, e agora? Lá ficou um buraco no vestido.
Sua mãe, mulher severa, não achou nenhuma graça; e para castigo de Maria o pedacinho foi costurado ali outra vez... Um remendo feio no meio de tanta boniteza!
Maria junto com os pontos do bordado também aprendeu que a tesoura era só para cortar a linha.



Lembrança de um fato contado-me por Lourdes Maria, aquela que anos depois me fez o vestido xadrezinho.