sábado, 11 de dezembro de 2010

11 de dezembro

“Maria lavava
São José estendia
Menino chorava
Com o frio que fazia"








Música que minha mãe me ninava e me enchia de tristeza e angústia, era triste saber que um menino sentia frio. O sono me acalmava.

Num Natal decidi acabar com a tristeza do mundo: a minha e a do menino, que eram as que me importavam.

Olhando o menino que ficava na manjedoura, na verdade uma bandejinha de veludo vermelho com uma perna cambaia, enfeitada com uma palha artificial, não titubeei: vesti no coitado que chorava e sentia frio uma calçinha rosa com rendinhas brancas.

- Menina, o que é isto?
- Para o menino não sentir frio.

Não lembro de alguém ter contestado a calçinha, o meu mundo sorriu: meu pai, minha mãe, meu irmão.

O menino? Este sorria sempre.

10 de dezembro



Manoel de Barros não fala de Natal, mas fala de que então, quando diz:

“As coisas que não levam a nada tem grande importância”

Que motivo alguém teria para dar abrigo a um casal pobre - ele, carpinteiro, ela dona de casa, grávida já a ponto de dar ao mundo o que o mundo não queria – mais uma boca para comer; sem casa, expulsos de sua terra por força da violência.

Ainda hoje se pensa assim, não aprendemos nada.


9 de dezembro



A viagem de Maria e José




Descubro em Mia Couto, poeta e escritor de Moçambique, a frase que precisava para a viagem:

“A pessoa viaja é para ser esperado, do outro lado a mão de gente que é nossa, com nome e história. Como um laço que pede as duas pontas.”

José e Maria já sabiam da história que traziam, queriam contá-la, mas naquele momento homens ocupados com seus medos não podiam ouvi-los, preferiam repetir suas pobres histórias.


Nota: a imagem de Ramon Faria é de poucos traços, simples como as grandes artes.