sábado, 5 de março de 2011

3900 amigos

Percebi que este Sótão e Porão tinha recebido 3900 visitantes.


Como chegaram aqui? Não sei.
Um lugar para guardar coisas para encontrar ou se livrar de outras é assim mesmo. Recebe visitas inesperadas, mas nem tantas assim.

Sinal de que encontram o que querem.


A porta aberta é convite, a flor aberta é convite, e amizade não é convite é privilégio.





Para agradecer a tantos visitantes procurei uma poesia para os que já conhecem e para aqueles que por acaso entrarem aqui sem saber muito bem do que se trata.


Muito obrigado, é muito bom termos uns aos outros.





Beijos das Traças e dos Cupins





Com vocês, Vinícius de Moraes





Soneto do amigo


Enfim, depois de tanto erro passado
Tantas retaliações, tanto perigo
Eis que ressurge noutro o velho amigo
Nunca perdido, sempre reencontrado.


É bom sentá-lo novamente ao lado
Com olhos que contêm o olhar antigo
Sempre comigo um pouco atribulado
E como sempre singular comigo.


Um bicho igual a mim, simples e humano
Sabendo se mover e comover
E a disfarçar com o meu próprio engano.


O amigo: um ser que a vida não explica
Que só se vai ao ver outro nascer
E o espelho de minha alma multiplica...

A traição da Bainha das Calças

Fevereiro foi embora e no meio de tanta coisa quase ia esquecendo de contar a história da Suzy, que já nos brindou com uma história deliciosa de um vestidinho xadrez.










O carnaval, em março, está começando, e é bom pensar em como vai acabar.

Carnaval é uma época que nos permitimos tudo, ou melhor, há anos atrás onde nada era permitido o carnaval nos dava uma folga para viver as fantasias (por favor, com trocadilho) que desejássemos.

Quer ser cigana? Quer ser bailarina, pirata, mau-caráter, se travestir de mulher, usar a saia mais curta? Fique à vontade, é carnaval, ninguém está olhando. Todo mundo está como você, preocupado em ser outra coisa, pelo menos por alguns dias.

Suzy começa sua história assim:

Às vezes não são nossos vestidos que nos causam uma alegria ou tristeza.

Aquele que não ficou bem ajustado nos deixa inquieta, e nos compromete deixando-nos insegura.











Mas a bainha de uma calça?

Pode uma bainha também trazer preocupação ou encrenca?




Imagina só o que achei numa folha de papel cheia de pó, caída atrás da prateleira lá do sótão.

- Suzy, posso escrever que tinha também uns confetinhos e umas serpentinas desbotados?

Confete e serpentina, um não vive sem o outro e o carnaval não vive sem eles.

Dois irmãos nascidos com diferença de 1 ano.

Apesar do confete vir de “confetti” ou confeitos de açúcar que as pessoas jogavam umas sobre as outras em Roma nos corsos pelas ruas da cidade, eles apareceram pela primeira vez feitos de papel em Paris em 1892.

A serpentina por sua vez foi inventada 1 ano depois por um funcionário dos telégrafos que utilizou tiras de papel já utilizado e que iriam para o lixo.

Mas a história da Suzy é muito mais interessante:



A TRAIÇÃO DA BAINHA DAS CALÇAS



As roupas da excursão de barco foram afundando na água ao mesmo tempo em que os confetes foram colorindo o tanque.






- Confetes? Como?


Não fora aquele passeio pela Lagoa dos Patos organizado para fugir do carnaval, buscar sossego e tranqüilidade?


E agora... Confetes?


Aqueles velejadores não queriam fugir do carnaval?


Dali há uns 40 dias o tempo começaria a mudar e os passeios de barco teriam que ser suspensos até a primavera, então aproveitar esta semana para um longo passeio seria perfeito. Sim, e o mais importante: ninguém gostava de carnaval.


Mas, um momento... Sim, eram confetes, bem coloridos, não havia dúvidas.



Os bolsos das calças, amigos fiéis, tinham sido devidamente examinados, pelo dono das mesmas, mas a bainha, mulher de língua comprida, tinha sido traiçoeira.




Carnaval, ou melhor o tempo depois do carnaval, sempre requer explicação, mesmo quando se foge dele.


- Bem... sim...não...
É que no caminho do restaurante havia um bloco de carnaval e nos atiraram confetes...
Sim foi só isso mesmo... deve ter sido neste instante.




Muitas explicações tiveram que ser dadas.



E como toda a explicação, por mais que fosse sincera, havia sempre uma vírgula que deixava espaço para uma dúvida a mais. Uma hesitação, ou incongruência no contar e mais um confete pulava da calça.


A noticia se espalhou aos quatro cantos do Yacht Clube da cidade que se orgulhava de ter um carnaval que durava 1 semana - igual, só na Bahia.


No ano seguinte, já avisados do acontecido, outros tantos velejadores foram procurar “sossego” na Lagoa dos Patos, no sul do Brasil.





Içaram suas velas, e com suas bússolas apontando para latitude 31º21'55" sul e longitude 51º58'42" oeste rumaram para São Lourenço do Sul.





Tantos barcos entrando pelo estreito canal causaram um alvoroço na cidadezinha. Alvoroço igual somente com Garibaldi e Anita, afinal era carnaval, e se os próprios aparecessem ninguém iria estranhar.





À beira da Lagoa, entre figueiras, plátanos e coqueiros, improvisaram um ancoradouro seguro para passarem aqueles dias.





Depois de bem instalados e com muita fome, era a hora de procurar um restaurante, mas não servia qualquer um. Tinha que ser aquele, que ficava no caminho dos blocos, do carnaval de rua, que já começava a esquentar.



Pois bem, o refúgio calmo ficou para os barcos, pois se descobriu que os velejadores "fugiam" de um carnaval para entrar em outro.


Os mais jovens, sem precisar dar muitas explicações, rapidamente acharam o baile, e como convidados especiais, sem fantasia e sem máscaras, se esbaldaram até a Estrela D’Alva aparecer.



Mas, eram velejadores e não foliões, então, ao retornar ao barco trataram de retirar os confetes dos cabelos, bolsos, e não deixar vestígios, mas as caras e as pernas traíam o cansaço.



Esta fuga do carnaval para encontrar outro carnaval fez surgir o Encontro da Vela em São Lourenço do Sul, evento que entrou para o calendário náutico e que se repete todos os anos.


Além dos confetes, serpentinas, e velas içadas, o vento, que sopra constantemente na Lagoa, traz o aroma das baforadas do cachimbo do comandante desavisado João Hugo que esqueceu confetes na bainha das calças.




Suzy, obrigada pela foto correta.

Nas letrinhas miúdas à esquerda da foto está escrito: Velejar é passar uma esponja nas preocupações. J. H. Altmayer.

O comandante sabia das coisas...