segunda-feira, 11 de julho de 2011

Como comemorar as mais de 5000 vezes que o Sótão e o Porão já foram visitados?



Não se entra nestes lugares sem aquela curiosidade que matou o gato: “o que tem aí?” se nos agrada ou não o que encontramos, depende.








O presente que você vai encontrar aqui no Sótão e no Porão cada vez que der uma espiadinha será, entre outras coisas, uma pergunta.

Pode levar para casa, pode deixar sua resposta, pode propor outra pergunta.




Passamos a vida a perguntar, mas variamos muito pouco as perguntas. E por isto as respostas também tendem a serem as mesmas.



A sensação de tédio que acompanha esta estagnação nos invade como um cinza gelado que desbota a cor dos olhos, apaga o sorriso e transborda a alma.
Os gregos iam ao Oráculo de Delphos e a Pitonisa em transe fazia profecias.




O Oráculo, porém advertia: “Ó homem, conhece-te a ti mesmo e conhecerás os deuses e o universo”. Mas o homem não acreditou e continuou indo aos bruxos, magos, sábios, psicanalistas, sempre com perguntas - as mesmas.

Existem homens que fazem perguntas diferentes ao invés de darem respostas iguais, mas a estes homens, pouco ouvido se dá, os chamam de loucos, ou pior ainda: de poetas.

Um poeta é a salvação para muitas coisas. Um poeta que faz perguntas é de mais valia ainda.




Neruda, menino/poeta, deixou um livro com 74 versos de puro encantamento. Pergunta o mesmo, ao contrário, ao avesso, de cima para baixo, de baixo para cima, da esquerda para a direita, vice-versa, através, perto de mais, longe de mais.

E como o livro não tem ordem, ou melhor tem, mas não há porque segui-la, vou começar pelo verso XXXII, o verso em que o poeta se apresenta:

Há algo mais tolo na vida
que chamar-se Pablo Neruda?

Há no céu da Colômbia
um colecionador de nuvens?

Por que sempre se fazem em Londres
os congressos de guarda-chuvas?

Sangue cor de amaranto
tinha a rainha de Sabá?
Quando Baudelaire chorava
chorava com lágrimas negras?


*o livro guardado aqui é o da L&PM edição de 2007, com tradução de Olga Savary, mas tem uma edição da Cosac Naify, também de 2007, lindamente ilustrada por Isidro Ferrer e tradução de Ferreira Gullar