domingo, 5 de dezembro de 2010

Começa dezembro e me dá certa agonia: pelo ano estar a terminar, pelo balanço inevitável do que fui e do que serei, pelas providências a tomar e às vezes são tantas que fico bêbada, pela festa a preparar e porque daqui a pouco será Natal.

As famílias crescem e se misturam, umas comem peru, outras bacalhau, outras não comem nada.

Em algumas se trocam presentes, em outras, eles são só para as crianças e, em outras ainda é um Feliz Natal com aquele amargo que acompanha a miséria.


Natal só é fácil quando se é criança, e assim mesmo nem sempre, depois é tarefa difícil de vencer e confesso que, o mês de dezembro vem se tornando a cada ano mais difícil.


Em certos anos gostaria que ao 30 de novembro se seguisse o 6 de janeiro. O ano já teria terminado e levado embora todas as convenções que as datas exigem.

Há uns anos atrás, num mês de junho, tive vontade de presentear a todos, como se faz no Natal; estava feliz e tinha entrado um dinheirinho extra, mas, por medo de me acharem louca, acabei numa festa junina, que detesto. Quando entrou dezembro já não estava tão feliz, o dinheiro tinha se perdido com outras obrigações e o Natal me deixou triste e endividada.

Entre compras e mais compras, almoços, jantares, amigos ocultos e uma comilança sem fim há duas coisas que ainda me comovem em dezembro: o Calendário do Advento e o Presépio. Representam a expectativa de alguma coisa que vai acontecer e a esperança do nascimento, nada nem ninguém nasce sem esperança e expectativa.

Em cada Sótão e cada Porão temos guardados nossos Calendários, Presépios, Árvores, Melancolias, Alegrias, Tristezas, Injustiças e tudo o que nos foi dado a guardar.

Já estou no primeiro domingo de dezembro e ainda não consegui começar o que me propus no fim de novembro – fazer aqui um Calendário do Advento, aquele cartão, mural, coroa de velas, ou seja lá que forma tenha onde os dias de dezembro, de 1 a 25 são marcados com uma imagem, um texto, um doce, ou o que mais a imaginação inventar.


Pois bem, estou 5 dias atrasadas, mas esta é a vida real, quando vemos já passaram 5 horas, 5 dias, 5 meses e aí é Natal. Mas mesmo assim vou tentar fazer este calendário funcionar.

Já o Presépio ocupa na minha vida um lugar especial.

Sou apaixonada por esta representação: os pais adorando o filho que acaba de nascer, seja ele filho de reis ou de escravos, o olhar é o mesmo sobre aquele pequeno – a família, sagrada sempre, independente da forma que evoluiu daqueles dias para os atuais.


E de quebra, um anjo protegendo os 3.




O meu presente de Natal para quem passar por aqui será o calendário e a cada dia uma imagem de presépio, às vezes atrasada em 1 ou 2 dias, não importa, quero manter a expectativa no ar.

Vamos lá então:

1 DE DEZEMBRO:

O Calendário do Advento vem dos Luteranos alemães, que, ao menos até o começo do século XIX, faziam a contagem regressiva para o dia do Advento.
Freqüentemente, a contagem era feita com um simples risco de giz na porta a cada dia, começando em primeiro de dezembro. Algumas famílias tinha meios mais elaborados de marcar os dias, como acender uma nova vela (talvez a gênese das atuais coroas do Advento) ou pendurando um santinho na parede a cada dia.
As velas também podiam ser colocadas em uma estrutura, que era conhecida como "relógio do Advento". Em dezembro de 1839 a primeira coroa do Advento pública foi pendurada na capela da Ruhes Haus (um orfanato) em Hamburgo, apesar de ter sido uma prática familiar em regiões de língua germânica da Europa desde o século XVII.
O primeiro calendário do Advento conhecido foi manufaturado em 1851.


Chata esta explicação... prefiro pensar que cada dia terá a me esperar uma surpresinha ou uma pequena vela que acesa vai me fazer sorrir levemente, nem é bem um sorriso, é quase um suspiro, uma esperançazinha antiga que sem querer vai tomando a gente.


E como aqui não pode faltar poesia, começo com Manuel Bandeira, podem chorar à vontade



Versos de Natal

Espelho, amigo verdadeiro,
Tu refletes as minhas rugas,
Os meus cabelos brancos,
Os meus olhos míopes e cansados.
Espelho, amigo verdadeiro,
Mestre do realismo exato e minucioso,
Obrigado, obrigado!

Mas se fosses mágico,
Penetrarias até ao fundo desse homem triste,
Descobririas o menino que sustenta esse homem,
O menino que não quer morrer,
Que não morrerá senão comigo,
O menino que todos os anos na véspera do Natal
Pensa ainda em pôr os seus chinelinhos atrás da porta.