E eis que chega ao fim 2010.
Bom? Ruim? Indiferente?
Cada um sabe como foi atravessar os 365 dias deste ano e agora vai poder escolher onde guardá-lo: no Sótão ou no Porão?
Há algo em comum entre estes dois lugares: o silêncio.
O silêncio que permite a conversa interior, o devaneio, o voltar no tempo a um som conhecido que só existe dentro de nós: aquela gargalhada, os passos atrás da porta, a chaleira chiando no fogão, a chuva - chuvisco ou tempestade -, aqueles que só nós reconhecemos.
Este Sótão e este Porão já receberam mais de 3000 visitas, a maioria feita em silêncio, talvez na madrugada, no intervalo de descanso do trabalho, depois que as crianças foram para cama, não sei... e é bom não saber!
Por isto neste dia 31, o último de 2010, e sempre tão barulhento: fogos, gritos, risadas, conversas em voz alta, música; desejo a todos que passam por aqui de vez em quando SILÊNCIO EM 2011.
Silêncio produtivo, silêncio criador, silêncio emocionado, silêncio interior.
Para o último texto de 2010 escolhi uma poesia de Saramago – do livro Provavelmente Alegria (Editorial Caminho, Lisboa, 1985) porque:
- é poesia
- é prêmio Nobel
- é Língua Portuguesa
- é silencioso
- é Saramago
É TÃO FUNDO O SILÊNCIO
É tão fundo o silêncio entre as estrelas.
Nem o som da palavra se propaga,
Nem o canto das aves milagrosas.
Mas, lá, entre as estrelas, onde somos
Um astro recriado, é que se ouve
O íntimo rumor que abre as rosas.
Este é meu desejo para 2011 – ouvir o silêncio das estrelas e do abrir das rosas.