Não se entra nestes lugares sem aquela curiosidade que matou o gato: “o que tem aí?” se nos agrada ou não o que encontramos, depende.
O presente que você vai encontrar aqui no Sótão e no Porão cada vez que der uma espiadinha será, entre outras coisas, uma pergunta.
Pode levar para casa, pode deixar sua resposta, pode propor outra pergunta.
Pode levar para casa, pode deixar sua resposta, pode propor outra pergunta.
Passamos a vida a perguntar, mas variamos muito pouco as perguntas. E por isto as respostas também tendem a serem as mesmas.
A sensação de tédio que acompanha esta estagnação nos invade como um cinza gelado que desbota a cor dos olhos, apaga o sorriso e transborda a alma.
Os gregos iam ao Oráculo de Delphos e a Pitonisa em transe fazia profecias.
O Oráculo, porém advertia: “Ó homem, conhece-te a ti mesmo e conhecerás os deuses e o universo”. Mas o homem não acreditou e continuou indo aos bruxos, magos, sábios, psicanalistas, sempre com perguntas - as mesmas.
Existem homens que fazem perguntas diferentes ao invés de darem respostas iguais, mas a estes homens, pouco ouvido se dá, os chamam de loucos, ou pior ainda: de poetas.
Um poeta é a salvação para muitas coisas. Um poeta que faz perguntas é de mais valia ainda.
Neruda, menino/poeta, deixou um livro com 74 versos de puro encantamento. Pergunta o mesmo, ao contrário, ao avesso, de cima para baixo, de baixo para cima, da esquerda para a direita, vice-versa, através, perto de mais, longe de mais.
E como o livro não tem ordem, ou melhor tem, mas não há porque segui-la, vou começar pelo verso XXXII, o verso em que o poeta se apresenta:
Há algo mais tolo na vida
que chamar-se Pablo Neruda?
Há no céu da Colômbia
um colecionador de nuvens?
Por que sempre se fazem em Londres
os congressos de guarda-chuvas?
Sangue cor de amaranto
tinha a rainha de Sabá?
Quando Baudelaire chorava
chorava com lágrimas negras?
*o livro guardado aqui é o da L&PM edição de 2007, com tradução de Olga Savary, mas tem uma edição da Cosac Naify, também de 2007, lindamente ilustrada por Isidro Ferrer e tradução de Ferreira Gullar
2 comentários:
Sem comentários, literalmente! bjs [MAmélia]
É uma boa resposta. Ou seria uma pergunta sem a interrogação no final?
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