domingo, 7 de novembro de 2010

Um amigo

Um dia recebo um pequeno texto de uma amiga que já havia guardado aqui neste sótão um vestido xadrezinho.

É do seu jeito escrever com a simplicidade de quem presta atenção somente ao que interessa na vida.

Não sei se ela sabe, e isto não importa agora, que escreve lindos poemas em prosa. Uma Baudelaire de saias? Não, talvez de maillot nadando em muitos mares, sua paixão, e entre uma braçada e outra vai poemando como quem proseia.

O assunto do e-mail era: VOU ARRISCAR. Não sei se estava se preparando para um salto de trampolim, ou para um percurso marítimo ainda por descobrir.

O fato é que quando o texto caiu no meu colo, respingou poesia por todos os lados, foi uma festa. Tratei de juntar tudo e... guardei, pois naquela hora estava eu em outras terras, em outros mergulhos e levei um tempinho até chegar no meu porto novamente, atracar, amarrar o barco e dividir o que trouxe.

Eis o texto:

Foi num instante! Numa troca de olhares.

Ali estava ele com toda sua simplicidade, seu colorido, parado me esperando.

Foi amor à primeira vista. Parei e admirei-o em silêncio. Ele parado ali ficou.
Um impulso forte brotou dentro de mim: será meu. Agi rápido, pois senti que despertava este mesmo horrível sentimento em outra pessoa – a cobiça.


Em pouco tempo eu estava com ele. Abraçava-me, rodeava meu pescoço com carinho e encanto, ficamos por um tempo assim, namorados que se encontram depois de longo tempo apartados.

Cada pedacinho seu contava histórias de além mar, cheirava a maresia e a cores, pois sim, cor tem cheiro, claro, e imaginei ainda mais mistérios do que aqueles que trazia do berço.

Teria sido trazido pelo mar? Chegado numa garrafa com bilhetes de náufragos?

Não descobri ainda, e, no entanto isto não faz diferença, pois não diminui a sua alegria colorida de encantar a quem o conhece e, à sua volta brilham os olhos de desejo das crianças que fascinadas me pedem mais histórias, como se eu Sherazade fosse capaz de criá-las a partir de seus pedacinhos.

Pelos sete mares já andou e se mais mares houvesse mais elogios eu juntaria.

Fiel, comigo permanece, me alegrando, me enfeitando os dias, simples, colorido, me esperando.

A você, meu amigo silencioso de todas as horas, dedico esta homenagem.



Suzy Altmayer

Acho que o vestido xadrezinho está em ótima companhia


Que venham mais, pois precisamos vestir a alma de delicadezas como estas.

4 comentários:

Kika disse...

Que lindo! Quisera ser um dia inspiradora de um poema destes, uma verdadeira declaração de amor!
Um beijo grande na Suzy e na Traça!
Kika

Anônimo disse...

Olha, como vou começar...hummm .
Estou um tanto quanto embasbacada com os talentos que se mostram a partir desta idéia maravilhosa da Martha não só de dividir, como de arrebanhar almas poetas num blog.
Martha, UM AMIGO está -como tão graciosamente dizes-um primor !
Te parafraseando, quando o teu texto caiu no meu colo, respingou talento e amor pra todo lado.

Susy querida, bem vindo entre nós o teu lindo texto. Confesso que deixou-me curiosa até o final, quando surpresa descubro que o amor à primeira vista, desta vez, não era pelo teu marido e sim por um colorido colar. Delicioso e comovente! Parabéns . Denise

Anônimo disse...

Suzy,
Muito bom te encontrar por aqui, com um texto tão bonito e bem humorado.
Parabéns maninha, realmente muito bom.
Um beijo para ti e outro para a Martha.
Qualquer dia me arrisco e mando alguma coisa tirada do porão, direto para o sótão.
Tonio

Martha Estima Scodro disse...

Tonio, será uma honra para a Traça ter um escrito teu guardado por aqui

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