segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

The Sound of Silence

O assunto SILÊNCIO faz um barulho danado dentro da gente.

Difícil falar de algo que é ausência.

Buscar a etimologia não ajuda muito, a palavra vem do latim silentium, de silens (silere) que significa estar em repouso, tranquilidade, descanso. Mas nem sempre neste estado estamos em silêncio.

Houve silêncio no início do mundo e haverá silêncio no final dos tempos, não consigo aprender com estes, pois não participei do primeiro e nem vou participar do último.

Presenciei uma tempestade de neve.
A neve caía silenciosa, mas não provocava o silêncio, ao contrário, quanto mais neve, mais agitação. Numa grande cidade uma nevasca é um transtorno, é lógico, mas não vi ou ouvi nem uma sugestão em algum canal de televisão de como apreciar a natureza se manifestando.
Queria ter ficado em silêncio, mas não consegui.

Em meio ao barulho vou procurando a imagem do silêncio.

O título do post não foi à toa. Simon e Garfunkel cantam lindamente:


And in the naked light I saw

Ten thousand people, maybe more.

People talking without speaking,

People hearing without listening,

People writing songs that voices never share

And no one dared

Disturb the sound of silence.


Mas como representá-lo?

Uma exposição em cartaz por aqui me chamou atenção pelo título: “The Sound of one hand”






Fui lá para descobrir, ó santa ignorância, Hakuin, mestre do zen budismo,(1685 -1768), que baseava sua prática de meditação na decifração dos “Koan”, pequenas perguntas que não poderiam ser respondidas pela razão e sim pela intuição através da meditação.

Seu Koan mais famoso, e que seus discípulos eram orientados a buscar a resposta como primeiro passo para se tornarem mestres, era:

You know the sound of two hands clapping; tell me, what is the sound of one hand?"

Qual seria então o som de uma mão?

Ou alguém tem dúvida que a mão de Saramago e a de Antonio Nobre falavam?






Simónides, poeta grego, dizia: “A Pintura é uma poesia silenciosa e a Poesia é uma pintura que fala.”

Ainda vou voltar a este grego, pois ele tem outras idéias também geniais que vou trazer para cá.

Mas agora silêncio, a Pintura vai falar:




Primeiro a mão dos deuses







depois as que nos levam para outra dimensão com sua arte






A mão do mundo real


a mão da dor






a da dor maior ainda




a mão da esperança
e a de mais esperança ainda

Agora quem fala é a Poesia e já chega pedindo silêncio, alguém vai desobedecer Neruda?








O dia já está quase raiando e eu também preciso estar só para que ele chegue.

4 comentários:

julitabuelita disse...

Bah, muito inspirado...até coloquei os Monges cantando enqto lia. Pssssit....( bj)

Unknown disse...

Eu brinquei com o barulho do silêncio ("Ó Maria, diz àquela cotovia que fale mais devagar...)... e deu no que deu: minha música favorita servindo de pano de fundo para esta obra de arte - "...Yo voi a cerrar los ojos... - Es casi nada, es casi todo". Falou, Neruda! Falou, Brima! bjs.

Anônimo disse...

Adorei o texto , Martha...a frase de Simónides.
Mas Neruda chegou quebrando tudo, esfregando beleza nas nossas fuças !
Num mundo que não cala para ouvir o barulho silencioso da neve a cair e o barulho barulhento da tempestade a rasgar o céu de todos. O barulho de uma natureza que precisa falar mais alto para que escutemos seu grito de " deixe-me apenas ser " , um pedido de socorro que vem em forma de vento, chuva, raio e águas que urgem fugir. E nós não silenciamos para escutá-la.
Não silenciamos em vida ,porque tememos que o silêncio da eternidade nos importune.
E no entanto, o silêncio é tão benigno.
Parabéns pelo post. bjos

Anônimo disse...

Ainda ás voltas com este post, que adoro.
Um tema que rende tanto...tanta reflexão,tanto barulho dentro da gente. Só não vou escrever mais pq meu silêncio acaba de ser quebrado pelo despertar do Leo ...aquele que no seu mundo silencioso grita barulhos dentro das almas desta casa.

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