sexta-feira, 26 de novembro de 2010

A autora fala

Com a palavra a autora e responsável pelas lembranças:

Ai Martha, quase chorei. Que lindo!
Obrigada pelo carinho...
bjss
Dailza

Não Dailza, nós é que agradecemos.

quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Achei que os comentários ao Post do Sonho valiam outro post.
Alguém duvida do poder das lembranças?


Como alguém já disse - John Lennon? - a vida é o que acontece enquanto fazemos planos, e sem as coisas pequenas, como chegaremos às grandes?

Aí vão eles:

Preciso dizer que os olhos encheram de lágrimas? Acho que não né, meio óbvio!!!

Mais uma vez eu digo a expressão "Old School" que se for lida devagar reparem que vira "Old is cool"

A casa de Angra é imortal, cheia de lembranças, churrascos, almocos, jantares, filmes alugados na locadora com gramado no telhado,"O brojo agora é a kilo", "O brojo agora é churraskilo", O velho do Restaurante Oceano que "flertava" com a vovó, muito misto quente da sanduicheira, JERÔNIMOOOOO, Mico torrado no poste, morcego invadindo a casa na madrugada, Espanadrapos, Quioksi, Repceção, Show do Mágico Peixoto, Bingo com prêmio de Nado livre até a Ilha Grande, tardes intermináveis na piscina e muitos mas muitos papos-furados e conversas na varanda deliciosa.

No clima do show do Paul lembrei da música dos beatles "In my life" que diz os seguintes versos:

"There are places I remember all my life,
Though some have changed,
Some forever not for better,
Some have gone and some remain."

Amei o texto. Ela conseguiu retratar a casa sem nunca ter ido. Incrível.

Beijos, Pedro

O que o Pedro escreveu, torna qualquer outro comentário desnecessário.
Bjs, Beto

Quem queria estar lá agora põe o dedo aqui que já vai fecharrrrrrrrrrrrrrrrrr

love u all, Camilla


Em 25 de novembro de 2010 05:31, Fernando Scodro escreveu:

acho que precisamos sim adicionar a brava reação do Pedro ao morcego...MAINAAAAA!!!!




Hoje é Thanksgiving (o meu primeiro em um lugar que não é meu "home" but is the the place I live now). Ler o texto e depois receber vários comentários que fazem total sentindo na minha vida, realmente me fez perceber (como os americanos dizem) "what I am thankful for"
Muito obrigada por todas as memórias que a casa de Angra só deu um empurrãozinho para acontecer. Se hoje eu consigo me apresentar para as novas pessoas que conheço todos os dias, muito é por causa de vocês!
Mesmo o Rio estando confuso, eu desejo um Happy Thanksgiving para todos!
E só para adicionar na lista do Pedro: "pim pim pim pirim faça uma onda forte pra mim....... TA NO FORNOOOOOO"
Beijos e MUITAS saudades!
Sylvia

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

A Casa e o Mar ( o sonho da Martha)

Conhecer a Dailza numa oficina literária foi uma das boas coisas que aconteceram este ano. Dailza tem talento – ficou em terceiro lugar nos concurso de contos da Off- FLIP, é organizada – toma conta do blog dos alunos da oficina, é mãe e avó – cria filhos e netos com um amor sem fim, e é minha nova amiga – daquelas que logo desconfiamos que vieram para ficar.
Num dos exercícios da oficina Dailza escreveu um mini conto sobre um sonho que lhe contei, aliás, eu não contei o sonho, simplesmente disse que quando ia para a minha casa na praia eu sonhava que o mar entrava dentro dela, somente isto.
Dailza, com seus olhos, ouvidos e alma de escritora, contou sem querer a história da casa muito melhor do que eu, a dona da história, teria feito.
Em 142 palavras Dailza revelou uma casa onde família, amigos, vizinhos, viveram e deixaram muitas recordações.
A vida mudou, os pequenos cresceram, os mais velhos partiram, os vizinhos são outros, mas a casa continua lá, pronta para nos receber. É para lá que vamos quando queremos tirar o sapato, deixar marcas na areia e entrar no mar para sentir o sal na boca e na pele.
A casa é azul, azul da cor do mar.


A Casa e O Mar
(Sonho de Martha)

Ela era uma casa simpática. Ficava à beira d’água, sempre enamorada do mar. Durante muitos verões, foi o paraíso das crianças que, logo de manhãzinha, corriam pela areia até chegar à barra de espuma macia e molhar os pés.
A casa não era grande nem pequena. Tinha o tamanho ideal para guardar memórias, testemunhar gerações. Viu quando castelos de areia deram lugar às pranchas que cortavam as águas. Assistiu primeiros beijos roubados em noite de lua cheia.
Mas, nada dura além de seu destino. Um dia, o mar cansado da rotina, resolveu que seria bom quebrar suas ondas mais além. O mar queria crescer, ganhar novos espaços. E assim foi: começou pela areia branca, ganhou as calçadas até chegar à varanda. Invadiu as salas, os quartos e quando deu-se conta, a casa que antes olhava o mar, agora vivia dentro dele.

Dailza
11/2010

quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Livros+ Livros X Livros = PAIXÃO


Livros, livros e mais livros, falta lugar para guardar todos os que li e ainda assim representam uma ínfima parte do que gostaria de ler.

A paixão por eles pode ser doentia, mesmo isto não sendo doença.

Mas os livros não são sempre os mesmos ao longo da nossa vida, e da deles. O texto que hoje nos emociona já passou por nós sem nenhum efeito há anos atrás, ou pior, ficou com aquela marca horrível da obrigação de ler para a escola, o melhor lugar para provocar horror aos livros.

Este texto de Clarice Lispector, viva ela, me fez escolher também no meu Sótão quais meus livros preferidos. Dos 4 citados, 3 são livros que também me marcaram. Não digo quais para não adiantar a beleza do texto.

Boa leitura e se quiser mande aqui para o Sótão as suas preferências.



O PRIMEIRO LIVRO DE CADA UMA DE NOSSAS VIDAS

Perguntaram-me uma vez qual fora o primeiro livro de minha vida. Prefiro falar do primeiro livro de cada uma das minhas vidas. Busco na memória e tenho a sensação quase física nas mãos ao segurar aquela preciosidade: um livro fininho que contava a história do Patinho Feio e da Lâmpada do Aladim.
Eu lia e relia as duas histórias, criança não tem disso de ler uma só vez: criança quase aprende de cor e, mesmo quase sabendo de cor, relê com muito da excitação da primeira vez. A história do patinho feio no meio dos outros bonitos, mas quando cresceu revelou o mistério: ele não era pato e sim um belo cisne. Essa história me fez meditar muito, e identifiquei-me com o sofrimento do patinho feio – quem sabe se eu era um cisne?


Quanto a Aladim, soltava a minha imaginação para as lonjuras do impossível a que eu era crédula: o impossível naquela época estava ao meu alcance. A idéia do gênio que dizia: pede de mim o que quiseres, sou teu servo – isto me fazia cair em devaneio. Quieta no meu canto, eu pensava se algum dia um gênio me diria: “ Pede de mim o que quiseres.” Mas desde então revelava-se que sou daquelas que têm que usar os próprios recursos para terem o que querem, quando conseguem.

Tive várias vidas. Em outra de minhas vidas, o meu livro sagrado foi emprestado porque era muito caro: Reinações de Narizinho.
Já contei o sacrifício de humilhações e perseveranças pelo qual passei, pois, já pronta para ler Monteiro Lobato, o livro grosso pertencia a uma menina cujo pai tinha uma livraria. A menina gorda e muito sardenta se vingara tornando-se sádica e, ao descobrir o que valeria para mim ler aquele livro, fez um jogo de “amanhã venha em casa que eu empresto”. Quando eu ia, com o coração literalmente batendo de alegria, ela me dizia: “Hoje não posso emprestar, venha amanhã.” Depois de cerca de um mês de venha amanhã, o que eu, embora altiva que era, recebia com humildade para que a menina não me cortasse de vez a esperança, a mãe daquele primeiro monstrinho de minha vida notou o que se passava e, um pouco horrorizada com a própria filha, deu-lhe ordens para que naquele mesmo momento me fosse emprestado o livro. Não o li de uma vez: li aos poucos, algumas páginas de cada vez para não gastar. Acho que foi o livro que me deu mais alegria naquela vida.

Em outra vida que tive, eu era sócia de uma biblioteca popular de aluguel. Sem guia, escolhia os livros pelo título. E eis que escolhi um dia um livro chamado O Lobo da Estepe, de Herman Hesse.
O título me agradou, pensei tratar-se de um livro de aventuras tipo Jack London. O livro, que li cada vez mais deslumbrada, era de aventura, sim, mas outras aventuras. E eu, que já escrevia pequenos contos, dos 13 aos 14 anos fui germinada por Herman Hesse e comecei a escrever um longo conto imitando-o: a viagem interior me fascinava. Eu havia entrado em contato com a grande literatura.

Em outra vida que tive, aos 15 anos, com o primeiro dinheiro ganho por trabalho meu, entrei altiva porque tinha dinheiro, numa livraria, que me pareceu o mundo onde eu gostaria de morar. Folheei quase todos os livros dos balcões, lia algumas linhas e passava para outro. E de repente, um dos livros que abri continha frases tão diferentes que fiquei lendo, presa, ali mesmo. Emocionada, eu pensava: mas esse livro sou eu! E, contendo um estremecimento de profunda emoção, comprei-o. Só depois vim a saber que a autora não era anônima, sendo, ao contrário, considerada um dos melhores escritores de sua época: Katherine Mansfield.


A descoberta do mundo
Ed. Rocco, 1999
Os erros de português estão no texto do livro, com certeza não são de Clarice e nem desta copista.

Só por brincadeira faça o teste abaixo:

VERDADEIRO OU FALSO

1- O livro é sempre melhor que o filme.
2- Um banheiro sem material de leitura é com a Suíça sem os Alpes.
3- Não há lugar mais agradável do que uma velha biblioteca com seu cheiro de poeira.
4- Eu sempre sou atraído por aquela caixa de livros usados no fundo de um brechó, mesmo que eu esteja passando a pé, de carro ou de bicicleta.
5- É difícil não achar que o meu trabalho é um mero intervalo no meu prazer de ler.
6- Uma livraria põe à prova a fraqueza da natureza humana.
7- Nenhum móvel ou objeto é tão charmoso numa decoração quanto os livros.

E agora me diga: alguma das afirmativas acima remotamente se encaixa no seu amor pelo mundo dos livros? Então estamos na mesma turma.

domingo, 7 de novembro de 2010

Um amigo

Um dia recebo um pequeno texto de uma amiga que já havia guardado aqui neste sótão um vestido xadrezinho.

É do seu jeito escrever com a simplicidade de quem presta atenção somente ao que interessa na vida.

Não sei se ela sabe, e isto não importa agora, que escreve lindos poemas em prosa. Uma Baudelaire de saias? Não, talvez de maillot nadando em muitos mares, sua paixão, e entre uma braçada e outra vai poemando como quem proseia.

O assunto do e-mail era: VOU ARRISCAR. Não sei se estava se preparando para um salto de trampolim, ou para um percurso marítimo ainda por descobrir.

O fato é que quando o texto caiu no meu colo, respingou poesia por todos os lados, foi uma festa. Tratei de juntar tudo e... guardei, pois naquela hora estava eu em outras terras, em outros mergulhos e levei um tempinho até chegar no meu porto novamente, atracar, amarrar o barco e dividir o que trouxe.

Eis o texto:

Foi num instante! Numa troca de olhares.

Ali estava ele com toda sua simplicidade, seu colorido, parado me esperando.

Foi amor à primeira vista. Parei e admirei-o em silêncio. Ele parado ali ficou.
Um impulso forte brotou dentro de mim: será meu. Agi rápido, pois senti que despertava este mesmo horrível sentimento em outra pessoa – a cobiça.


Em pouco tempo eu estava com ele. Abraçava-me, rodeava meu pescoço com carinho e encanto, ficamos por um tempo assim, namorados que se encontram depois de longo tempo apartados.

Cada pedacinho seu contava histórias de além mar, cheirava a maresia e a cores, pois sim, cor tem cheiro, claro, e imaginei ainda mais mistérios do que aqueles que trazia do berço.

Teria sido trazido pelo mar? Chegado numa garrafa com bilhetes de náufragos?

Não descobri ainda, e, no entanto isto não faz diferença, pois não diminui a sua alegria colorida de encantar a quem o conhece e, à sua volta brilham os olhos de desejo das crianças que fascinadas me pedem mais histórias, como se eu Sherazade fosse capaz de criá-las a partir de seus pedacinhos.

Pelos sete mares já andou e se mais mares houvesse mais elogios eu juntaria.

Fiel, comigo permanece, me alegrando, me enfeitando os dias, simples, colorido, me esperando.

A você, meu amigo silencioso de todas as horas, dedico esta homenagem.



Suzy Altmayer

Acho que o vestido xadrezinho está em ótima companhia


Que venham mais, pois precisamos vestir a alma de delicadezas como estas.

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

A Quem Fica


“... Acordemos, então, que não é prefácio isto, mas aviso simples ou prevenção, como aquele derradeiro que o viajante, já no limiar da porta, já postos os olhos no horizonte próximo, ainda deixa a quem lhe ficou a cuidar das flores.

... A felicidade fique o leitor sabendo, tem muitos rostos. Viajar é, provavelmente, um deles. Entregue suas flores a quem saiba cuidar delas, e comece”.

Acertou quem reconheceu aqui a escrita de Saramago.

São trechos do prefácio do seu “Viagem a Portugal”. Livro para ser lido ao som de um fado na voz de Amália Rodrigues, de um copo de Vinho do Porto e de um Pastel de Belém que, com certeza, deixarão algumas marcas na brancura das páginas e que, por sua vez, também nos marcarão em algum lugar.

Não recomendo a leitura como um guia de viagem, nem Saramago o faz, não siga o itinerário dele, procure o seu caminho dentro das possibilidades dos caminhos que um país com alma oferece e que um escritor/viajante transforma no Portugal de cada um.

Mas não é de viagem que quero falar. Penso nas flores.




Vejo o pequeno ou a pequena ao lado dos avós ouvindo o último aviso da mãe sobre algum cuidado indispensável que não poderia ser esquecido. Vejo seus olhos no horizonte, divididos entre o prazer da viagem, “são só alguns dias”, e a dificuldade da separação. O pai aproveita de se ocupar com o carro para esconder a emoção.

Naquele tempo bastava trocar os pequenos de quarto e tudo estava arranjado. A educação e os cuidados trocavam suavemente de mãos.




Mas assim mesmo aquele momento era horrível. A pequena ou o pequeno sentindo-se abandonados trocados por qualquer prazer, está claro que não pensavam assim, sentiam assim, esperneavam e choravam. E não havia nada que os consolasse, nem o colo quente da avó e nem todas as suas promessas de comer, dormir e brincar a qualquer hora.

E quase sem perceber o pequeno ou a pequena passam para o outro lado da porta.
Lançam avisos aos que ficam agora com suas crianças, avisos mais complexos. A vida destas crianças necessita de uma agenda de várias folhas com todos os compromissos, remédios para todas as alergias, e médicos para as diversas mazelas que sempre as crianças tiverem, mas que agora necessitam de olhos super treinados, os olhos antigos não servem mais.

A troca de mãos já não é tão suave, a insegurança de quem vive nos tempos modernos precisa mais do que uma avó amorosa para lhes acalmar, precisa de especialistas, afinal, estas crianças são gourmets exigentes, executivos com múltiplas tarefas e frágeis ao ponto de precisarem de supervisão constante. Grandes perigos podem se apresentar para elas.

E de novo quase sem perceber, na porta lançam o olhar para trás: os pequenos se foram e outros pequenos ainda não chegaram.

Sobram de fato as flores, as samambaias ou talvez um cachorro que, percebendo a partida, se agita um pouco para logo depois se postar à porta à espera.

A lista de procedimentos desta vez é para quem parte.

Para as flores, a primavera acontece todos os anos; para as gentes, é preciso criá-la sempre.



E assim, depois de tanto tempo sem ir ao Sótão e ao Porão, eu volto.




E lá se vão 45 dias de primavera.